2 de mai. de 2011

Samba de uma nota só

para Cris

Vejo a vida como um samba,
– Rainha, guerreira, cristiana –
Boto meu acento carioca
Saio, danço, luto e jogo.
(Faço charme só pra ver
Como você é: se ama ou não,
Se tem força, se se enforca,
Se tem sangue ou é uma barata)
– Rogo a todos que aqui vão,
(não será de mister muito
tempo) nem de gastar muitas
palavras para persuadir
uma verdade aos discretos:
Me fez o céu – como dizem –
formosa e, de tal maneira,
que todos se apaixonam(-se)
– duplamente – por mim.
Meus desejos são, porém,
a praia, a natureza, o Rio –
Daqui, então, eu saio a mirar
A beleza do céu, com passos
De quem caminha a sua casa
(nossa morada, meu lugar).

26 de fev. de 2011

Livr(ai)os de Livr(e)os

                                       para Gazu, Pito Pérez, Bith, Paulo, Orlando y todos mis amados borrachos

De mucho leer y poco dormir:
Er(up)eções permanentes de idéias fixas
Emplastos, aleivosias, EStalos, EStilos,
Gêneros - borrachas jogadas pelos cantos -
Duma estrada de praias pedregosa,
enquanto caminhava tremend(o)amente,
Oscultei uma coisa que carpia:
Vinda detrás, tal qual uma máquina,
Tomado de assalto esperei para ver
que me dizia: "Hás bebido do sacrosanto
cálice?" - Estupefa(r)to, diante de pregunta
tão apócrifa, funguei, mexi nos bolsos,
passei o pé no chão fingindo tímido -
Locus amenus - Depois olhei de frente
cocei o saco, ia responder com outra coisa,
Mas passava um cavaleiro desossado
Montado em um hipópotamo humanizado -
"Talvez esteja morto e isto é delírio...
melhor me esconder em algum canto
antes que a primeira virgem apareça"

(Me gustan sus pelos negros,
Virgília,
vem, virginal, violenta, voraz,
- Abre-se a coca em lata -
quebro-lhe a cara se não me queres
se não me juras que sou Deus
[Desculpe-me, desculpa mesmo, teu autor ser tão ruim,
mas cada musa é mãe de sua própria obra.])

§De repente, perdi o fôlego, diante de
tão raros acontecimentos - que a mim se revelavam.
Nonada. Sei que tudo vale a pena,
mas minha alma é pequena, pequena.
As palavras vem aos borbotões, mas viraram um Hai-
Kai:
"Não pense que eu bebo porque minha vida é uma merda.
Eu bebo porque gosto. Escrevo porque preciso.
E fodo quando posso."

^Ah, mas se pelo menos, eu tivesse uma profissão,
pra dizer que realmente faço alguma coisa...^
@Eu devia estar feliz e satisfeito,
porque ter um emprego,
ganhar cinco mil por mês
e ter um corcel setenta e três.
Mas acontece que eu sou triste.
E só uso cada borracha uma vez:
passo por cima, apago tudo, uso,
sujo mesmo, faço, claro, calos,
de tanto usar. Mas por questões políticas,
sifilíticas, sanitárias², e, quiçás, mercadológicas,
preciso renovar. A cada folha, ou mesmo lado de folha,
Procuro uma nova. Nem sempre é fácil
encontrar. (Fico espantado por alguém não admitir
o que todo mundo sabe que aconteceu
naquele conto. Tá na cara que a personagem é uma puta.
Que o herói é um anti-herói coitado - ainda querem coitar ele! -
Não posso entender como esse autor
pode criar - imagine! - algo tão impróprio:
como pode um borracho ser inteligente
mas não: querem dizer que ali tem algo de ambíguo, metafórico...bah)
, improvável
não?
Forma sem norma
imagino tudo
mudo&

O hipopótamo me olhava admirado
enquanto a máquina seguia, jogando a neve toda na calçada,
me atolando em gelo até a boca
que, gelada, calada, fria e incorrupta,
não dizia nada. Segui meu caminho
sem mais percalços, pedras ou sobrecalças
lá fora, onde
há um amor que entre de férias
à espera de um café, quente, forte, moreno, bom,
brasileiro
que veio ficar ao pé de mim.