26 de nov. de 2008

Obituários - II

VIII

Havia uma cruz na estrada.
Uma cruz e uma placa:
"Trecho perigoso"

IX

Morreu a bola oito,
na caçapa do lado.
Mereço um trago,
depois um coito.


XI

Lá fora, há uma luz que entra de férias,
Há um par de luvas que descalço,
Há um mar e um temporal.
Há só isso, e nada mais.

XVI

aí depois eles foram pra outra rua
é preciso evitar o deja vú
e salvar a cadelinha
muitos fogos de artifício
capturar novos versos
que passam voando
e ecoar
coando

- Oliveira

Obituários

I

Na igreja onde deflorei uma flor já gasta,
Jaz minha infância casta.
Com ela ficou minha inocência, basta.

II

Minha virgindade ficou no quintal,
ah, titia, aquele avental,
fazer subir a pipa, já não é nada!

III

Aqui jaz Jão Manel Fernandes,
Pai álcoolatra e marido brocha.
Que na morte sejas duro, Ó corno.

IV

Faça-se saber que faleceu Maria da Gloriosa Assunção,
Os parentes não vão receber pêsames,
Porque afinal de contas a velha era uma chata,
então ninguém deve resignar-se. Ao invés de velório,
Será feita uma Rave no cemitério municipal de Maruípe.
Todos estão convidados; drogas liberadas.

V

Já era tarde
quando descobri que me ensinaram tudo errrado...
Não é possível localizar esse discurso no tempo e no espaço.
Aqui jaz o nada.
Não deixem flores.

VI

Quando saí do morro pela primeira vez,
vi como são burras as crianças que têm pai.
Morreu minha inveja,
aí.

VII

Aqui Jaz João Ninguém.
Indigente de pai e mãe.
Amado pai e esposo.
Descanse em paz.

- Oliveira



Debutando

a mocinha foi pra festa
sem calcinha
agarrou o marinheiro
e deu-lhe um beijo
a família ficou h-o-r-r-o-r-i-z-a-d-a

- Oliveira