1 de dez. de 2008

21:01

Receita de poesia

Você precisa de:
dois potes de "homé famoso"
(a qualidade de homé na sua cozinha!)
três porções de nada
dois potes de terços
sete xícaras de coisa nenhuma
uma pitada de metalinguagem
junte todos os ingredientes
coloque numa forma deformada
untada com versos livres
não cubra com rimas que está fora de moda
(É Foda...)
no máximo coloque alguns paralelismos
e, talvez, algumas assonâncias, pra adocicar
cuidado com o Isagero
e, por favor,
não fale de amor que vai ficar atifircial
se quiser que a massa fique mais concreta
jogue tudo no chão
com forma e tudo
dará um ar plástico
sirva frio
Dá pra uns 100 anos, no mínimo.
Solta os cachorros.

- Íris.
28-09-05

20:05

Chico fala comigo de novo.
Conversamos sobre o cotidiano.
O dia dele foi melhor que o meu.
Ele reclama, sempre.
Todo dia só penso em poder parar.
Mas me calo com todas as bocas,
que encontro, e o devoro,
esfinge infinita e insaciável.

- Íris.
A partir do poema anterior, Íris Bast irá assassinar poemas aqui neste blog também.
Íris é de origem búlgura, tem 35 anos e sobrevive em Vitória, ES.
É jornalista e nas horas vagas se exercita poetando.
Tem um corpo escultural, é claro, devido a tanto exercício.
Não gosta de MPB e julga o atual e inatual cenário artístico capixaba uma merda.
Não tem papas na língua, como se vê.
Poetisa inédita em livro, pretende publicar esses primeiros poemas aqui neste blog, porque não tem paciência, nem saco, pra pagar o mico de ir de mesa em mesa, de lama em lama.
De marginal, portanto, não tem nada.

Oliveira.
20/03

17:58

a página em branco
causa repulsa
escrevo por impulso
do pulso que pulsa
a vulva pulsa e pulsa
junto com o pulso
assim, vamos, manos, luvas
pulsa pulsa pulsa
no impulso
do pulso

- Íris.
O problema de se falar em dados
são as pessoas, que sempre pensam
em seis faces.

Depois, tento falar de ficção,
mas jogam realidade
na minha cara.

Passo pra arte, entre passos tortos,
mas desisto logo, porque
não há argumentos para bater
as penas da Flávia Alessandra.

Só; então,
mudo
...

- Oliveira
Então, calço umas palavras
vou por aí chutando latas
até achar uns versos chatos -
não faria isso com sapato.

Versos que são como ratos
(os demais são todos ralos -
ah, não, não servem como balas...)
e que correm pelas valas,

tristes, sujos, safados.
Tomo cuidado com gatos -
preciso afastar suas patas,
se não me roubam as falas.

- Oliveira

26 de nov. de 2008

Obituários - II

VIII

Havia uma cruz na estrada.
Uma cruz e uma placa:
"Trecho perigoso"

IX

Morreu a bola oito,
na caçapa do lado.
Mereço um trago,
depois um coito.


XI

Lá fora, há uma luz que entra de férias,
Há um par de luvas que descalço,
Há um mar e um temporal.
Há só isso, e nada mais.

XVI

aí depois eles foram pra outra rua
é preciso evitar o deja vú
e salvar a cadelinha
muitos fogos de artifício
capturar novos versos
que passam voando
e ecoar
coando

- Oliveira

Obituários

I

Na igreja onde deflorei uma flor já gasta,
Jaz minha infância casta.
Com ela ficou minha inocência, basta.

II

Minha virgindade ficou no quintal,
ah, titia, aquele avental,
fazer subir a pipa, já não é nada!

III

Aqui jaz Jão Manel Fernandes,
Pai álcoolatra e marido brocha.
Que na morte sejas duro, Ó corno.

IV

Faça-se saber que faleceu Maria da Gloriosa Assunção,
Os parentes não vão receber pêsames,
Porque afinal de contas a velha era uma chata,
então ninguém deve resignar-se. Ao invés de velório,
Será feita uma Rave no cemitério municipal de Maruípe.
Todos estão convidados; drogas liberadas.

V

Já era tarde
quando descobri que me ensinaram tudo errrado...
Não é possível localizar esse discurso no tempo e no espaço.
Aqui jaz o nada.
Não deixem flores.

VI

Quando saí do morro pela primeira vez,
vi como são burras as crianças que têm pai.
Morreu minha inveja,
aí.

VII

Aqui Jaz João Ninguém.
Indigente de pai e mãe.
Amado pai e esposo.
Descanse em paz.

- Oliveira



Debutando

a mocinha foi pra festa
sem calcinha
agarrou o marinheiro
e deu-lhe um beijo
a família ficou h-o-r-r-o-r-i-z-a-d-a

- Oliveira